Em meio a uma crise econômica, grandes conquistas e bens de alto valor tornam-se menos acessíveis para a maioria das pessoas. Sair da casa dos pais, construir sua própria família e conquistar sua casa própria tem sido uma missão quase impossível na rotina atual.
No entanto, esse cenário abre espaço para o que chamamos de “pequenos luxos” — prazeres acessíveis que, mesmo em meio às dificuldades, oferecem uma sensação de conforto, autoestima e bem-estar.
A vida está cara, então precisamos criar luxos acessíveis.
Itens como um bom café, um batom de marca, um chocolate importado ou até um momento de autocuidado em casa passam a ganhar um novo significado. Eles funcionam como escapes da rotina pesada e símbolos que mostram que ainda é possível se permitir algo especial sem comprometer o orçamento.
As marcas observaram e entenderam essas mudanças dos millennials e agora vendem experiências como um café grifado e não produtos caros da marca.
Esse fenômeno não é novo: já foi identificado em diversas crises ao redor do mundo, quando o consumo de cosméticos, guloseimas ou acessórios crescia em contraste com a queda das vendas de produtos mais caros.
Hoje, vemos esse comportamento se repetir e, a partir disso, surgir micro tendências de consumo como o Labubu, um batom vermelho icônico, um lenço de seda que dá vida ao look básico, uma vela aromática que perfuma o lar ou até um cappuccino especial em uma cafeteria diferenciada. Esses gestos sutis carregam o mesmo espírito do luxo: identidade, prazer e uma dose de sofisticação.
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Mais do que supérfluos, os pequenos luxos tornam-se uma estratégia de equilíbrio emocional. Eles representam a ideia de que, mesmo em tempos desafiadores, podemos cultivar instantes de prazer e estilo no cotidiano — reafirmando que luxo não precisa estar ligado apenas a grandes cifras, mas também a gestos sutis que nos conectam ao que nos faz bem.
A moda, como reflexo cultural, sempre soube traduzir esse movimento. Em vez da bolsa da temporada, talvez seja um chaveiro da grife; no lugar do vestido de passarela, um esmalte na cor tendência. São escolhas menores em escala, mas imensas em significado — símbolos de estilo que cabem na rotina e no bolso.
Marina Käfer é formada em Design de Moda e pós-graduada em Comportamento do Consumidor e Moda, Mídia e Mercado. Já foi professora consultora de varejo em instituições como Senac e Sebrae. Tem especializações em styling, jornalismo de moda e visagismo, com experiência no mercado plus measurement.
