Por trás de cada coleção de moda existe uma história. A de Vitória Behs, de 28 anos, merece ser contada não apenas pelas roupas que cria, mas pela determinação com que constrói seu caminho no setor.
Primeira mulher com deficiência motora a se formar em moda pelo Senac de Porto Alegre, em 2021, Vitória costuma se apresentar com suas “muletinhas poderosas”, companheiras de uma trajetória que hoje passa por diferentes etapas da moda, da criação às passarelas. Natural de Porto Alegre e atualmente vivendo em Florianópolis, ela define-se como alguém curiosa e movida pela vontade de explorar todas as possibilidades do ofício.
“Eu sou uma menina que tem muita vontade de viver e não se deixa abater pelos obstáculos que a vida nos apresenta”, conta.
O interesse pelo tema surgiu ainda na adolescência, quando se deparou com barreiras em testes de agências de publicidade e casting. Sem espaço para mostrar seu potencial, decidiu então entender de dentro como a moda funcionava e acabou encontrando sua vocação.
Na graduação, adaptou os métodos tradicionais e limitados de modelagem, criando moldes em miniatura e peças para bonecas. Ainda que a dinâmica da sala de aula exigisse que os alunos passassem longas horas em pé, manipulando réguas, moldes e tecidos, um processo inviável para quem tem mobilidade reduzida, Vitória seguiu firme.
Mais tarde, encontrou na tecnologia, com ferramentas como o Audaces Moldes, Idea e Fashion Studio, um recurso essencial para trabalhar em condições iguais às dos colegas. A experiência abriu novas perspectivas e também a vontade de ampliar o acesso a esse tipo de solução para outros estudantes.
“Por mim, essa tecnologia deveria estar em todas as universidades de moda do Brasil. Se eu tivesse conhecido antes, o meu processo seria outro”, diz.
Vitória foi primeira mulher com deficiência motora a se formar em moda no Senac de Porto Alegre
| Foto: Arquivo pessoal
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✨ Da produção às passarelas
Hoje, Vitória quer estar em todos os lugares onde a moda acontece e se vê contribuindo em todas as etapas: da criação das peças às apresentações em desfiles.
Além de estilista, a gaúcha é criadora de conteúdo e já esteve presente nas passarelas da NotEqual, marca reconhecida pela diversidade. A convite do estilista Fábio Costa, ex-Project Runway, Vitória desfilou na edição de 2023 da Casa de Criadores.
Mais do que vestir a coleção, participou ativamente da produção, acompanhando maquiagem, styling e até a escolha dos sapatos. “Foi a realização de um sonho. Uma sensação de que todos os ‘nãos’ que recebi se transformaram em um grande ‘sim’”, relata.
Mas sua atuação ultrapassa o luxo dos eventos de moda. Ainda durante a faculdade, desenvolveu uma coleção pensada para Olivia, filha do chef Henrique Fogaça, inspirada por uma fala do próprio em rede nacional. Agora, com a marca própria recém-lançada, batizada de Ondas, Vitória projeta um futuro em que pretende criar, palestrar, colaborar com a indústria e ampliar o debate sobre inclusão na moda.
“Quero trabalhar um pouco em todas as áreas, mas meu maior sonho é seguir como estilista, dar palestras, trabalhar como embaixadora com a Audaces e criar um ambiente onde todas as pessoas com deficiência se sintam capazes de construir sua trajetória na moda”, projeta.
